"Se no passado fingimos publicamente acreditar enquanto permaneciamos ceticos na vida privada, ou ainda envolvidos na troca obscena de nossas crencas publicas, hoje tendemos publicamente a professar nossa atitude cetica, hedonista e relaxada, enquanto na vida privada continuamos acossados pelas crencas e proibicoes severas. Nisso consiste, para Jacques Lacan, a consequencia paradoxal da experiencia de que "Deus esta morto". (...) O ateu moderno pensa que sabe que Deus esta morto; o que ele nao sabe e que, inconscientemente, ele continua acreditando em Deus. O que caracteriza a modernidade nao e mais a figura-padrao do crente que nutre em segredo duvidas intimas sobre sua crenca e se envolve em fantasias transgressoras. O que temos hoje e um sujeito que se apresenta como hedonista tolerante dedicado a busca da felicidade, mas cujo inconsciente e o lugar das proibicoes - o que esta reprimido nao sao desejos ou prazeres ilicitos, mas as proprias proibicoes."