"..nao tem maisl ugar o escritor mandarim, aquele que, como Sartre na Franca ou Ortega Y Gasset e Unamuno em seu tempo ou um Octavio Paz ainda entre nos, faz as vezes de guia e mestre em todas as questoes importantes e supre um vazio que, por causa da escassa participacao dos demais na vida publica, ou pela falta de democracia ou prestigio mitico da literatura, so o "grande escritor" parece capaz de preencher. Numa sociedade livre aquela funcao de tutor que exerce o escritor- as vezes de forma proveitosa - acaba sendo inutil nas sociedades submetidas: a complexidade e a multiplicidade dos problemas o levam a dizer disparates se quiser dar palpites em tudo. Suas opinioes e posicionamentos podem ser muito lucidos, mas nao necesariamente mais do que as de qualquer outro- um cientista, um profissional, um tecnico- e, seja como for, devem ser julgadas por seus proprios meritos e nao por serem provenientes de alguem que escreve com talento. Essa dessacralizacao da pessoa do escritor nao me parece uma desgraca, pelo contrario, poe as coisas no seu lugar, pois a verdade e que escrever bons romances ou belos poemas nao implica que quem assim esta dotado para a criacao literaria goza de clarividencia generalizada"