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Algumas vezes eu imaginava o sangue enchendo um copo descartavel. Eu podia escutar cada esguicho batendo contra as paredes enceradas do copo. Talvez 100 esguichos enchessem o copo; seriam apenas 50 segundos. Entao eu pensava em como poderia cortar meus pulsos. A faca da cozinha? Aquela pequena e afiada, com o cabo preto? Ou uma lamina de barbear? Mas nao existem mais laminas de barbear cortantes; somente aquelas laminas injetadas, que sao seguras. Eu nunca havia percebido o desaparecimento da lamina de barbear. Acho que e assim que eu, tambem, desaparecerei. Sem estardalhaco. Talvez alguem va pensar em mim em algum momento de fantasia, exatamente como pensei na extinta lamina de barbear. Contudo, a lamina nao esta extinta. Gracas aos meus pensamentos, ela ainda vive. Sabe, nao existe mais nenhuma pessoa viva, agora, que era adulta quando eu era crianca. De modo que eu, como crianca, estou morto. Em algum dia proximo, talvez em quarenta anos, nao existira mais ninguem vivo que tenha algum dia me conhecido. E quando estarei verdadeiramente morto, quando nao existir na memoria de ninguem. Eu pensei muito sobre uma pessoa muito velha, o ultimo individuo vivo que conheceu alguem ou um grupo de pessoas. Quando essa pessoa velha morre, todo o grupo morre tambem, desaparece da memoria viva. Eu gostaria de saber quem sera essa pessoa para mim. A morte de quem me tornara verdadeiramente morto?