"Montei, fui trotando travado. Diadorim e o Cacanje iam ja mais longe, regulado umas duzentas bracas. Arte que perceberam que eu vinha, se viraram nas selas. Diadorim levantou o braco, bateu mao. Eu ia estugar, esporeei, queria um meio-galope, para logo alcancar os dois. Mas, ai, meu cavalo f'losofou: refugou baixo e refugou alto, se puxando para a beira da mao esquerda da estrada, por pouco nao deu comigo no chao. E o que era, que estava assombrando o animal, era uma folha seca esvoacada, que sobre se viu quase nos olhos e nas orelhas dele. Do vento. Do vento que vinha, rodopiado. Redemoinho: o senhor sabe -- a briga de ventos. O quando um esbarra com outro, e se enrolam, o doido espetaculo. A poeira subia, a dar que dava escuro, no alto, o ponto as voltas, folharada, e ramaredo quebrado, no estalar de pios assovios, se torcendo turvo, esgarabulhando. Senti meu cavalo como meu corpo. Aquilo passou, embora, o ro-ro. A gente dava gracas a Deus. Mas Diadorim e o Cacanje se estavam la adiante, por me esperar chegar. -- "Redemunho!" -- o Cacanje falou, esconjurando. -- "Vento que enviesa, que vinga da banda do mar..." -- Diadorim disse. Mas o Cacanje nao entendia que fosse: redemunho era d'Ele -- do diabo. O demonio se vertia ali, dentro viajava. Estive dando risada. O demo! Digo ao senhor. Na hora, nao ri? Pensei. O que pensei: o diabo, na rua, no meio do redemunho... Acho o mais terrivel da minha vida, ditado nessas palavras, que o senhor nunca deve de renovar. Mas, me escute. A gente vamos chegar la. E ate o Cacanje e Diadorim se riram tambem. Ai, tocamos."