Por um instante a morte soltou-se a si mesma, expandindo-se ate as paredes, encheu o quarto todo e alongou-se como um fluido ate a sala contigua, ai uma parte de si deteve-se a olhar o caderno que estava aberto sobre uma cadeira, era a suite numero seis opus mil e doze em re maior de Johann Sebastian Bach composta em cothen e nao precisou de ter aprendido musica para saber que ela havia sido escrita, como a Nona Sinfonia de Beethoven, na tonalidade da alegria, da unidade entre os homens, da amizade e do amor. Entao aconteceu algo nunca visto, algo nao imaginavel, a morte deixou-se cair de joelhos, era toda ela, agora, um corpo refeito, e por isso e que tinha joelhos, e pernas, e pes, e bracos, e maos, e uma cara que entre as maos escondia, e uns ombros que tremiam nao se sabe porque, chorar nao sera, nao se pode pedir tanto a quem sempre deixa um rasto de lagrimas por onde passa, mas nenhuma delas que seja sua. Assim como estava, nem visivel nem invisivel, em esqueleto nem mulher, levantou-se do chao como um sopro e entrou no quarto.