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Sim, pensa Clarissa, esta na hora deste dia acabar. Nos damos nossas festas; abandonamos nossas familias para viver no Canada; nos nos digladiamos para escrever livros que nao mudam o mundo, a despeito de nossos dons e de nossos imensos esforcos, nossas esperancas mais extravagantes. Vivemos nossas vidas, fazemos nossas coisas, depois dormimos - e simples assim, comum assim. Alguns se atiram da janela, outros se afogam, tomam pilulas; muitos mais morrem em algum acidente; e a maioria de nos, a grande maioria, e devorada por alguma doenca ou, quando temos muita sorte, pelo proprio tempo. Existe apenas isto como consolo: uma hora, em um momento ou outro, quando, apesar dos pesares todos, a vida parece explodir e nos dar tudo o que haviamos imaginado, ainda que qualquer um, exceto as criancas (e talvez ate elas), saiba que a essa seguir-se-ao inevitavelmente muitas outras horas, bem mais penosas e dificeis. Mesmo assim, gostamos da cidade, da manha, e torcemos, como nao fazemos por nenhuma outra coisa, para que haja mais.