Pessoas assim, como este Sr. Jose, em toda a parte as encontramos, ocupam o seu tempo ou o tempo que creem sobejar-lhes da vida a juntar selos, moedas, medalhas, jarroes, bilhetes-postais, caixas de fosforos, livros, relogios, camisolas desportivas, autografos, pedras, bonecos de barro, latas vazias de refrescos, anjinhos, cactos, programas de operas, isqueiros, canetas, mochos, caixinhas-de-musica, garrafas, bonsais, pinturas, canecas, cachimbos, obeliscos de cristal, patos de porcelana, brinquedos antigos, mascaras de carnaval, provavelmente fazem-no por algo a que poderiamos chamar angustia metafisica, talvez por nao conseguirem suportar a ideia do caos como regedor unico do universo, por isso, com as suas fracas forcas e sem ajuda divina, vao tentando por alguma ordem no mundo, por um pouco de tempo ainda o conseguem, mas so enquanto puderem defender a sua coleccao, porque quando chega o dia de ela se dispersar, e sempre chega esse dia, ou seja por morte ou seja por fadiga do coleccionador, tudo volta ao principio, tudo torna a confundir-se.