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"(Pagina 45) "A enfermaria zumbe da maneira como ouvi uma fabrica de tecido zumbir uma vez, quando o time de futebol jogou com a escola secundaria na California. Depois de uma boa temporada, s promotores da cidade estavam tao orgulhosos e exaltados que pagavam para que fossemos de aviao ate a California para disputar um campeonato de escolas secundarias com o time de la. Quando chegamos a cidade tivemos de visitar um industria local qualquer. Nosso treinador era um daqueles dados a convencer as pessoas de que o atletismo era educativo por causa do aprendizado proporcionado pelas viagens, e em todas as viagens que faziamos ele carregava com o time para visitar fabricas de laticinios, fazendas de plantacao de beterraba e fabricas de conservas, antes do jogo . Na California foi uma fabrica de tecido. Quando entramos na fabrica, a maior parte do time deu uma olhada rapida e saiu para ir sentar-se no onibus e jogar poquer em cima das malas, mas eu fiquei la dentro numa canto, fora do caminho das mocas negras que corriam de um lado para o outro entre as fileiras de maquinas. A fabrica me colocou numa especie de sonho, todos aqueles zumbidos e estalos a chocalhar de gente e de maquinas sacudindo-se em espasmos regulares. Foi por isso que eu fiquei quando todos os outros se foram, por isso e porque aquilo me lembrou de alguma forma os homens da tribo que haviam deixado a aldeia nos ultimos dias para ir trabalhar na trituradora de pedras para a represa. O padrao frenetico, os rostos hipnotizados pela rotina... eu queria ir com o time, mas nao pude. Era de manha, no principio do inverno, e eu ainda usava a jaqueta que nos deram quando ganhamos o campeonato - uma jaqueta vermelha e verde com mangas de couro e um emblema com o formato de uma bola de futebol bordado nas costas, dizendo o que haviamos vencido - e ela estava fazendo com que uma porcao de mocas negras olhassem. Eu a tirei , mas elas continuaram olhando. Eu era muito maior naquela epoca. " (Pagina 46) "Uma das mocas afastou-se de sua maquina e olhou para um lado e para o outro das passagens entre as maquinas, para ver se o capataz estava por perto, depois veio ate onde eu estava. Perguntou se iamos jogar na escola secundaria naquela noite e me disse que tinha um irmao que jogava como zagueiro para eles. Falamos um pouco a respeito do futebol e coisas assim, e reparei como o rosto dela parecia indistinto, como se houvesse uma nevoa entre nos dois. Era a lanugem de algodao pairando no ar. Falei-lhe a respeito da lanugem. Ela revirou os olhos e cobriu a boca com a mao, para rir, quando eu lhe disse como era parecido com o olhar o seu rosto numa manha enevoada de caca ao pato. E ela disse : " Agora me diga para que e que voce quereria nesse bendito mundo estar sozinho comigo la fora, numa tocaia de pato ?" Disse-lhe que ela poderia tomar de conta da minha arma, e as mocas comecaram a rir com a boca escondida atras das maos na fabrica inteira. Eu tambem ri um pouco, vendo como havia parecido inteligente. Anda estavamos conversando e rindo quando ela agarrou meus pulsos e os apertou com as maos. Os tracos do seu rosto de repente se acentuaram num foco radioso; vi que ela estava aterrorizada por alguma coisa. - Leve-me - disse ela num murmurio - Leve-me mesmo garotao. Para fora desta fabrica aqui, para fora desta cidade, para fora desta vida. Me leva para uma tocaia de pato qualquer, num lugar qualquer . Num outro lugar qualquer. Hem garotao, hem ?"
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perspective
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Ken Kesey |
a1de62c
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"(Cont.. Pagina 46) O seu rosto negro, bonito, cintilava ali na minha frente. Fiquei boquiaberto, tentando pensar em alguma maneira de responder. Ficamos juntos, enlacados daquela maneira durante alguns segundos; entao o som da fabrica saltou num arranco, e alguma coisa comecou a puxa-la para tras, afastando-a de mim. Um cordao em algum lugar que eu nao via se havia prendido naquela saia vermelha florida e a puxava para tras. As unhas dela foram arranhando as minhas maos e, tao logo ela desfez o contato comigo, seu rosto saiu novamente de foco, tornou-se suave e escorregadio como chocolate derretendo-se atras daquela neblina de algodao que soprava. Ela riu e girou depressa, deixando que eu visse a perna amarela, quando a saia subiu. Lancou-me uma piscadela de olho por sobre o ombro enquanto corria para sua maquina, onde uma pilha de fibra deslizava da mesa para o chao; ela apanhou tudo e saiu correndo sem barulho pela fileira de maquinas para enfiar as fibra num funil de enchimento; depois, desapareceu no meu angulo de visao virando num canto. (Pagina 47) "Todos aqueles fusos bobinando e rodando, e lancadeiras saltando por todo lado, e carreteis fustigando o ar com fios, paredes caiadas e maquinas cinza-aco e mocas com saias floridas saltitando para a frente e para tras e a coisa toda tecida como uma tela, com linhas brancas corredicas que prendiam a fabrica, mantendo-a unida - aquilo tudo me marcou e de vez em quando alguma coisa na enfermaria o traz de volta a minha mente Sim. Isto e o que sei.. A enfermaria e uma fabrica da Liga. Serve para reparar os enganos cometidos nas vizinhancas, nas escolas e nas igrejas, isso e o que o hospital e. Quando um produto acaba, volta para a sociedade la fora - todo reparado e bom como se fosse novo, as vezes melhor do que se fosse novo, traz alegria ao coracao da Chefona; algo que entrou deformado, todo diferente, agora e um componente em funcionamento e bem-ajustado, um credito para todo esquema e uma maravilha para ser observado. Observe-o se esgueirando pela terra com um sorriso, encaixando-se em alguma vizinhancazinha, onde estao escavando valas agora mesmo, por toda a rua, para colocar encanamento para a agua da cidade. Ele esta contente com isso. Ele finalmente esta ajustado ao meio-ambiente..."
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Ken Kesey |