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Tem coisas que nao sao de ruindade em si, mas danam, porque e ao caso de virarem, feito o que nao e feito.
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João Guimarães Rosa |
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Eu sei: nojo e invencao, do Que-Nao-Ha, para estorvar que se tenha do.
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João Guimarães Rosa |
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sempre a essas do mel eu dei louvor de meu agradecimento. Renego nao, o que me e de doces usos: gracas a Deus toda a vida tive estima a toda meretriz, mulheres que sao as mais nossas irmas, a gente precisa melhor delas, dessas belas bondades.
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João Guimarães Rosa |
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O que demasia na gente e a forca feia do sofrimento, propria, nao e a qualidade do sofrente.
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João Guimarães Rosa |
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Ele disse: -- "Minha lei, sabe qual e que e, Tatarana? E a sorte dos homens valentes que estou comandando..."
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João Guimarães Rosa |
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Todos estao loucos, neste mundo? Porque a cabeca da gente e uma so, e as coisas que ha e que estao para haver sao demais de muitas, muito maiores diferentes, e a gente tem de necessitar de aumentar a cabeca, para o total.
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João Guimarães Rosa |
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Do que acontecido, me senti muito livre. Trotei, adiante. Eu ia, a meia-redea, nao me instava, nao pensava.
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João Guimarães Rosa |
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Na serra do Tatu, o frio ali e tal, que, em madrugadas, a gente necessita de uns tres cobertores. Na Serra
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João Guimarães Rosa |
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O pobre sozinho, sem um cavalo, fica no seu, permanece, feito numa croa ou ilha, em sua beira de vereda. Homem a pe, esses Gerais comem.
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João Guimarães Rosa |
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O senhor me cre? E foi entao que eu acertei com a verdade fiel: que aquela raiva estava em mim, produzida, era minha sem outro dono, como coisa solta e cega. As pessoas nao tinham culpa de naquela hora eu estar passeando pensar nelas. Hoje, que enfim eu medito mais nessa agenciacao encoberta da vida, fico me indagando: sera que e a mesma coisa com a bebedice de amor? Toleima.
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João Guimarães Rosa |
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O senhor ainda me releve. Mas, na ocasiao, me lembrei dum conselho que Ze Bebelo, na Nhanva, um dia me tinha dado. Que era: que a gente carece de fingir as vezes que raiva tem, mas raiva mesma nunca se deve de tolerar de ter. Porque, quando se curte raiva de alguem, e a mesma coisa que se autorizar que essa propria pessoa passe durante o tempo governando a ideia e o sentir da gente; o que isso era falta de soberania, e farta bobice, e fato ..
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João Guimarães Rosa |
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Cacei Diadorim. Mas eu estreava umas ansias. Como fosse, falei, do novo e do velho;
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João Guimarães Rosa |
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Vim. Diadorim nada nao me disse. A poeira das estradas pegava pesada de orvalho.
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João Guimarães Rosa |
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Antes foi uma coisa acontecida repentina: aquele alvoroco, na cavalhada geral. Ai o mundo de homens
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João Guimarães Rosa |
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E a gente raivava alto, para retardar o surgir do medo -- e a tristeza em cru -- sem se saber por que, mas que era de todos, unidos malaventurados.
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João Guimarães Rosa |
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Um corpo diferente de todos, mais fino, mais alvo, cor-de-rosa, uma beleza que nao se sabe -- como uma riqueza inesperada, roubada, como uma vertigem... Despir Dona Lalinha sera sempre um pecado. Eu teria de ter vivido para a merecer -- desde a hora do meu nascimento.
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romance
sertão
portuguese
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João Guimarães Rosa |
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Todos estao loucos, neste mundo? Porque a cabeca da gente e uma so, e as coisas que ha e as que estao para haver sao demais de muitas, muito maiores diferentes, e a gente tem de necessitar de aumentar a cabeca, para o total.
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João Guimarães Rosa |
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Tu, Tatarana, Riobaldo: agora e a ma hora!" -- era o Hermogenes prevenindo."
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João Guimarães Rosa |
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O Mumbungo queria a sua mulher, a Mula-Marmela, e, contudo, incertamente, ela o amedrontava. Do temor que nao se sabe. Talvez pressentisse que so ela seria capaz de destrui-lo, de cortar, com um ato de 'nao', sua existencia doidamente celerada. Talvez adivinhasse que em suas maos, dela, estivesse ja decretado e pronto o seu fim
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João Guimarães Rosa |
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So vi um, o Joe Bexiguento, sobrechamado o Alpercatas: esse era homem de estranhez em muitos seus costumes,
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João Guimarães Rosa |
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Naquele lugar existia uma mulher, por nome Maria Mutema, pessoa igual as outras, sem nenhuma diversidade.
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O lugar onde esbarramos, no E-Ja, era logo depois da ponte de pau, que estando esburacada:
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João Guimarães Rosa |
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Ah, para nao se ter medo e que se vai a raiva.
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João Guimarães Rosa |
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Lembro que naquela manha tambem o calor era menos, e o ar era bondoso.
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o Major Saulo, de botas e esporas, corpulento, quase um obeso, de olhos verdes, misterioso, que so com o olhar mandava um boi bravo se ir de castigo, e que ria, sempre ria -- riso grosso, quando irado; riso fino, quando alegre; e riso mudo, de normal.
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João Guimarães Rosa |
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Olha so, vai trovejar..." E Leofredo mostrava o gado: todos inquietos, olhos ansiosos, orelhas erectas, batendo os parenteses das galhas altas. -- "Nao e trovoada nao. Sao eles que estao adivinhando que a gente esta na horinha de sair..." Mas, nem bem Sinoca terminava, e ja, morro abaixo, chao a dentro, trambulhavam, emendados, tres trons de trovoes. Ai, a multidao se revolveu, instantanea, e uma onda de corpos cresceu, pesada, quebrou-se n..
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João Guimarães Rosa |
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Estamos chegando no corrego. Vamos la... -- Vigia so como a cheia esta alta. A agua quando dando na metade do ingazeiro!... Qu'e do barranco? Sumiu, esta vendo? -- Virgem! E agaranto que em ate de noite ainda sobe mais... A lua nao e boa... Ano acabando em seis... -- A enchente esta vindo de desde as cabeceiras: senao nao descia tanta folha de buriti... -- Pois diz-se que tem quatro dias que la nas nascentes nao para de chover.
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João Guimarães Rosa |
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Todas as mulheres eram bonitas. Todo anjo do ceu devia de ser mulher.
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João Guimarães Rosa |
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Assim mais assim, com os erros todos e muita demora, ate ha uns dois anos atras eu ainda era homem para por algum bilhete no papel... -- Pois eu nao. Nunca estive em escola, sentado nao aprendi nada desta vida. Voce sabe que eu nao sei. Mas, cada ano que passa, eu vou ganhando mais dinheiro, comprando mais terras, pondo mais bois nas invernadas. Nao sei fazer conta de tabuada, tenho ate enjoo disso... Nunca assentei o que eu ganho ou o que ..
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João Guimarães Rosa |
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Longe dos outros, deixado num extremo, no canto mais escuro e esquerdo do telheiro, Sete-de-Ouros estava. So e serio. Sem desperdicio, sem desnorteio, cumpridor de obrigacao, aproveitava para encher, mais um trecho, a infinda linguica da vida.
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João Guimarães Rosa |
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A tal que, enfim, veio o dia de se sair, guerreiramente, por vales e montes, a gente toda.
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João Guimarães Rosa |
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Por que o Governo nao cuida?! Ah, eu sei que nao e possivel. Nao me assente o senhor por beocio. Uma coisa e por ideias arranjadas, outra e lidar com pais de pessoas, de carne e sangue, de mil-e-tantas miserias... Tanta gente -- da susto se saber -- e nenhum se sossega: todos nascendo, crescendo, se casando, querendo colocacao de emprego, comida, saude, riqueza, ser importante, querendo chuva e negocios bons... De sorte que carece de se esc..
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João Guimarães Rosa |
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Hem? Hem? O que mais penso, testo e explico: todo-o-mundo e louco. O senhor, eu, nos, as pessoas todas. Por isso e que se carece principalmente de religiao: para se desendoidecer, desdoidar. Reza e que sara da loucura. No geral. Isso e que e a salvacao-da-alma... Muita religiao, seu moco! Eu ca, nao perco ocasiao de religiao. Aproveito de todas. Bebo agua de todo rio... Uma so, para mim e pouca, talvez nao me chegue. Rezo cristao, catolico,..
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João Guimarães Rosa |
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Em casa de seo Assis Wababa, me deram trato regozijante. No que jantei, ri, conversei.
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João Guimarães Rosa |
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Fugi. De repente, eu vi que nao podia mais, me governou um desgosto.
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João Guimarães Rosa |
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Ai me explicou: um senhor, no Palhao, na fazenda Nhanva, altas beiras do Jequitai, para o ensino de todas as materias estava encomendando um professor.
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João Guimarães Rosa |
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Meu cavalo era bom, eu tinha dinheiro na algibeira, eu estava bem armado. Virei, vagaroso.
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João Guimarães Rosa |
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Um estado de cavalos. Os cavaleiros. Nenhum nao tinha desapeado. E deviam de ser perto duns cem. Respirei: a gente sorvia o bafejo -- o cheiro de crinas e rabos sacudidos, o pelo deles, de suor velho, semeado das poeiras do sertao. Adonde o movimento esbarrado que se sussurra duma tropa assim -- feito de uma porcao de barulhinhos pequenos, que nem o dum grande rio, do a-flor. A bem dizer, aquela gente estava toda calada. Mas uma sela range ..
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João Guimarães Rosa |
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Pelo que ouvimos: um galope, o chegar, o riscar, o desapeio, o xaxaxo de alpercatas.
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João Guimarães Rosa |
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Logo que o Reinaldo me conheceu e me saudou, nao tive mais dificuldade em dar certeza aos outros de minha situacao.
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João Guimarães Rosa |
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Assim mesmo, naquele estado exaltado em que andei, concebi fundamento para um conselho:
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João Guimarães Rosa |
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Foi que Titao Passos, pensando mais, me disse: -- "Tudo temos de ter cautela..."
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João Guimarães Rosa |
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O senhor saiba: eu toda a minha vida pensei por mim, forro, sou nascido diferente. Eu sou e eu mesmo. Diverjo de todo o mundo... Eu quase que nada nao sei. Mas desconfio de muita coisa.
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João Guimarães Rosa |